Parte 4

O Além e a Sobrevivência do Ser




Mais duas mensagens obtidas por meio da escrita mediúnica, em março e abril de 1912:


“Prezada Senhora, obrigado pelo serviço que me prestastes, obrigado por me terdes ajudado a sair da perturbação que se segue à morte, obrigado por me haverdes posto em contacto com almas tão nobres, tão puras, que sonham com o triunfo do verdadeiro Cristo e com o da prática da sua doutrina no seio de uma Humanidade corroída pela febre malsã do materialismo e pelo surto dessas doutrinas de uma filosofia nebulosa, que, pretendendo criar super-homens, desconhecem o homem.


“O materialismo de um lado e, de outro, as nefastas doutrinas que hão exaltado o eu em detrimento do nós e o indivíduo à custa da coletividade humana, da qual não o podem separar, criaram uma amoralidade geral, uma degeneração da consciência, que as velhas fórmulas religiosas são incapazes de deter.


“Oh! muito teremos que fazer, nós os missionários do Cristo novo, e não nos faltará trabalho na vinha do Senhor; mas, que alegria para o apóstolo é sentir que sua missão se precisa e se dilata, ver que a morte, longe de imobilizar o homem sob a lápide do sepulcro, lhe aumenta, estende, amplifica as faculdades, que a liberta das dúvidas, das hesitações, dos falsos escrúpulos que lhe turbavam a consciência! Minha vida passada não foi mais do que a baça crisálida em que minha alma se transformou, pelas provações e dores, em maravilhosa borboleta.


“Oh! alegria imensa que faz regurgitar o coração!, alegria que arrebata a alma como que num arranco desordenado, para arrojá-la, palpitante de reconhecimento, aos pés do Criador Celeste, que tão generosamente paga o resgate do pecador!


“Não, meus irmãos, imersos nas trevas da prisão terrestre, não podeis conceber a felicidade da libertação terrena. Sentir o engrandecimento da capacidade de conhecer e aprender, que já fez do homem o senhor do universo material; sentir que, com a inteligência e a compreensão, crescem todas as possibilidades de ação; sentir que o coração se depura e conhecer, enfim, a verdadeira amizade e o verdadeiro amor na comunhão íntima dos seres, que, por intransponíveis barreiras, os pesados invólucros materiais separam, são coisas que se não podem exprimir por palavras e impossível me é fazer-vos experimentar a plenitude de vida que sucede ao sono terrestre; pois que, na Terra, o homem se assemelha à semente enterrada no solo, gérmen obscuro, noção que prepara o desabrochar futuro, mas que não está, por isso, menos enredado nos liames da matéria.


“Obrigado, ainda uma vez, Senhora, por terdes apressado o meu despertar, por me terdes granjeado tantos e tão elevados amigos, tão dignos e tão compenetrados da palavra do Cristo; obrigado por me terdes feito entrar nesta falange que conta os Lacordaire, os Didon, os Bersier, falange que desempenha a missão divina da renovação do ideal do Cristo.


“Aqui está, pois, de novo o ardente, o fervoroso apóstolo que conhecestes, minha querida e fiel irmã (o Espírito se dirige neste ponto a uma das pessoas presentes), dispondo de maior clarividência e de mais inteligência das coisas, com a esperança viva de poder mais tarde e mais perfeitamente retomar a tarefa que tentou levar a cabo nesse mundo e que deixou, ah!, tão imperfeita. Foi o vosso pensamento que me atraiu para junto da vossa médium. Obrigado, portanto, a vós também.


“Deixo-vos, meus amigos, possuído de uma alegria pura e santa, alegria que ultrapassa todas as alegrias da Terra, todas as harmonias terrestres, como o canto do rouxinol sobreleva e abafa o chilrear da toutinegra.


“Obrigado ainda; o apóstolo ganhou novamente confiança na sua missão divina e ei-lo de novo pronto a combater pelo triunfo do Espírito do Cristo.


Loyson.”